Tento estudar a migração, mas ao mesmo tempo sou um migrante. Em mim coexistem o acadêmico que quer contribuir cientificamente para a sociedade e o estrangeiro que pertence ao grupo dos migrantes no Brasil. Há uma tensão criativa que ora se inclina para a reflexão acadêmica e ora para a expressão artística como crítica ao estado de exílio e migração. Essas são minhas condições existenciais que se transformarão em uma tese sobre identidades de um lado e em minha Bíblia de Migrantes e Refugiados de outro.

Para onde vamos? Imagem: Álvaro Pino Coviello

Do ponto de vista acadêmico, os temas do exílio vêm se consolidando como objeto de estudo na Argentina desde 2005, como assegura Jensen. Não somente em relação à última ditadura militar, mas também referentes a outros processos históricos anteriores e posteriores (2018, p.99). Migração: não se sabe se é um estado provisório que se vive indefinidamente ou se é um estado durável vivido intensamente como provisório, tomando Sayad (1998, p.45) como referência.

Do ponto de vista artístico, é hora de gritar a mudança inesperada. Este é o meu convite para ler e ouvir em minha língua materna.

Escute o poema “Mudanza”. Transcrição abaixo.

Yo soy otro.
No soy el mismo.
No sabía hasta hace poco quién era.

El exilio,
el refugio,

descubren lo que une es en verdad
en la base de la esencia humana.
Luego todo lo que hay es
cobertura, decoración.
Durante varios años no supe quién era.
Pero no quiero volver a ser quién era.
Pero ahora sé que no soy ese,
aún falta mucho por descubrir.
El exilio, el asilo,
la migración, el refugio,
lo hacen a uno apátrida.
Apátrida no de su nación
sino de uno mismo.

Apátrida porque se deja
su patria personal.
Su existencia.
consciente o inconsciente,
reflexionada o no,
vivida como se pudo.
Para comenzar a ser otra existencia
difusa, en la tinieblas,
sin límites y aprisionada,
desdibujada,

opaca y brillante al mismo tiempo.
Uno está mudando,
cambiando,
y no sabe en qué o en quién.
Desterrado de uno mismo.

Mudanza,
Evangelio de los Migrantes y Refugiados 12: 21-29

Referências:

Jensen, S. (2018). La historiografía del último exilio político argentino. Itinerarios y desafíos”, en: Águila, G.; Luciani, L.; Seminara, L. y Viano, C. (coords.). La Historia Reciente en Argentina. Balances de una historiografía pionera en América Latina. Buenos Aires: Imago Mundi, pp. 93-108.

Sayad, A. (1998). A imigração. São Paulo: Edusp.