Os dados provisórios indicam que o crescimento é moderado com baixa taxa de natalidade e os imigrantes influenciam no aumento da população.

O Censo Nacional de População, Famílias e Habitação 2022, produzido pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), foi realizado na Argentina em 18 de maio. De acordo com os primeiros resultados provisórios, entregues pelo INDEC em 19 de maio, a população argentina é de 47.327.407 habitantes – um crescimento de 18% em relação ao último censo, realizado há 12 anos.

Cartaz do Censo 2022. Reprodução

O autorreconhecimento étnico dos povos indígenas e afrodescendentes foi pesquisado pela primeira vez e foi incorporada a possibilidade de responder à autopercepção da identidade de gênero. Cabe destacar que, além da visibilidade dos indígenas e de seus descendentes e da luta pela diversidade de gênero, cresce na Argentina o interesse pela reivindicação, autoidentificação e estudos da população negra.

Ao contrário dos censos anteriores, a tecnologia possibilitou habilitar uma página na internet para que as pessoas pudessem preencher o questionário online a partir de suas casas. A população cadastrada digitalmente foi de 23.813.723, ou seja, 50,32% do total. Paralelamente, os recenseadores visitaram todos os domicílios no dia declarado feriado para solicitar os recibos censitários daqueles que optaram pela modalidade digital e realizaram a entrevista tradicional para os que optaram pelo censo presencial em domicílio. Mais de 600.000 pessoas participaram, incluindo recenseadores urbanos e rurais, juntamente com o pessoal técnico.

Tranalhadora do Censo 2022. Reprodução

Os organismos internacionais e a legislação argentina preveem que os censos sejam realizados a cada 10 anos, mas devido à pandemia da COVID-19 ele não foi realizado em 2020, o ano previsto, e tampouco em 2021. Desde a sua criação em 1968, o INDEC é responsável pelo desenho metodológico, planejamento, implementação e avaliação da operação censitária.

As mulheres superam os homens em 12%. Elas são 25.003.069, enquanto eles são 22.267.545. Um percentual ainda muito baixo de 56.793 pessoas, 0,12% da população total, admitiu não se reconhecer na identificação binária de gêneros.

A população argentina continua concentrada na “Pampa Húmeda”, região que inclui as províncias de Buenos Aires, Santa Fé e Córdoba. O noroeste argentino, que tinha a maior população no século XIX, continua em declínio populacional e está longe de seu esplendor colonial nos tempos de suas antigas conexões com Lima. Apesar do planejamento das políticas públicas, a Patagônia continua sendo o lugar mais despovoado do país. Isso pode ser explicado pelo genocídio dos povos indígenas que o Estado argentino cometeu com impunidade histórica no final do século XIX.

Segundo a ONU, a Argentina tem 2.212.879 imigrantes, o que representa 4,92% da população do país. A imigração feminina é maior que a masculina, com 1.194.306 mulheres, o que representa 53,97% de todos os imigrantes, contra 1.018.573 imigrantes do sexo masculino, que corresponde a 46,02%. É um dos estados mais receptivos da América do Sul e ocupa o 84º lugar no mundo em porcentagem de imigrantes em relação ao total da população. A imigração na Argentina vem principalmente do Paraguai, 31,22% com 690.948 pessoas; a Bolívia segue com 19,27%, 426.394 pessoas; e o Chile, 9,80% com 216.855 pessoas. A população brasileira é pequena, com 49.647 pessoas. Nos últimos anos, o número de imigrantes que vive na Argentina aumentou em 48.355 pessoas, 2,23%. Os venezuelanos se juntaram à imigração proveniente de países vizinhos.

A agência Télam entrevistou Leandro González, doutor em Demografia pelo Centro de Pesquisas e Estudos sobre Cultura e Sociedade (CIECS) do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) da Universidade Nacional de Córdoba (UNC). Sobre as razões para este aumento, González esclareceu que “devemos esperar até que tenhamos mais informações computadas pelo INDEC para ver se o crescimento da população se deve aos imigrantes internacionais”. Essa possibilidade existe porque “as populações crescem basicamente por nascimentos, e os nascimentos na Argentina estão em tendência de queda desde 2015, então seria improvável que houvesse um forte aumento de nascimentos no ano passado para explicar essa diferença”, assegurou González. Por outro lado, Victoria Mazzeo, investigadora da área de Estudos de Migração do Instituto Gino Germani e doutora em Ciências Sociais, disse que “se analisarmos o crescimento natural (a diferença entre nascimento e mortalidade) não é tão alto. A mortalidade se mantém estável e a taxa de natalidade tem diminuído desde 2015. Em 2019 a taxa (de nascimentos) foi de 13,9 (por mil habitantes) e, em 2020, de 11,8; e assim uma explicação poderá ser o crescimento da imigração.

A hipótese de que a população argentina cresceu devido à chegada de imigrantes nos últimos anos está prestes a ser confirmada ou desmentida: em 90 dias serão publicados os dados finais do CENSO 2022 realizado pelo INDEC.