Minha pesquisa tem como foco o tema de empreendedorismo realizado pelo imigrante refugiado no Rio de Janeiro. Este tema me chamou a atenção após minha participação no projeto Cores – Coletivo de Refugiados Empreendedores da Pares Caritas no ano de 2017 e 2018.
Durante o projeto me questionava se o fato de empreender trazia ao imigrante identidade, pertencimento e o desenvolvimento de uma rede de apoio no país de acolhimento e se este trabalho oferecia ao imigrante refugiado base para uma geração de renda sustentável.
Pesquisando sobre o assunto encontrei o relatório sobre o Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil elaborado pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) através de 500 entrevistas realizadas com refugiados reconhecidos hoje residentes no Brasil. Este relatório mostra que temos 57,5% de imigrantes refugiados no mercado de trabalho e 25,2% fora dele. A disparidade apresentada por este grupo amostral mostra que há um grande número de pessoas que ainda não estão inseridas no mercado de trabalho.
No início da pandemia, quando fizemos contato com alguns imigrantes integrantes da página do grupo Diaspotics/UFRJ no Facebook chamada ‘Brasil País de Imigração’, pude perceber alguns pontos em relação a geração de renda, a rede de apoio, a escolaridade, a empregabilidade e a sustentabilidade.
Em relação à renda, notei que tanto o emprego, quanto a renda gerada através de um negócio eram frágeis e esta fragilidade ficava evidente, pois muitos que possuíam seus trabalhos já os tinham perdido e se encontravam desempregados e, mesmo aqueles que possuíam seus próprios negócios, não conseguiam mais desenvolvê-los devido ao isolamento social.
A sustentabilidade, que, a princípio, seria gerada pelo emprego e negócios próprios, não parecia existir para suprir as necessidades de uma pandemia e de momentos sem trabalho. Assim, pude perceber que, a sustentabilidade, se existe, é apenas para um curto período ou mesmo de imediata urgência.
A rede de apoio gerada através do trabalho, próprio ou como empregado, foi o que, na dificuldade ou ausência de políticas públicas, sustentou, dentro do possível, as necessidades de alimento, abrigo e continuidade do negócio. Esta rede também foi ampliada com a participação do nosso grupo de pesquisa, de coletivos e de ONGs.
Observei que o tipo de trabalho e a escolaridade algumas vezes estavam interligadas, pois os imigrantes que possuíam um curso profissionalizante ou mesmo um curso universitário em seu país de origem estavam trabalhando com serviços mais técnicos e menos operacionais o que me faz pensar que o trabalho é o conhecimento e a experiência adquirida.
Pelo que identifiquei, tanto o conhecimento quanto a experiência adquirida pareciam ser o que estavam mantendo a realização do negócio próprio, já que na dificuldade do trabalho durante a pandemia, a adaptação às mídias sociais, a solicitação de ajuda da rede deu continuidade a tudo que havia sido conquistado até o momento.
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Flavia Arpini
Psicóloga, mestranda em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ e membro do Diaspotics.