Nos últimos meses, em diferentes lugares do mundo, barreiras à mobilidade de pessoas vêm sendo impostas pelos governos de diferentes países como uma das principais maneiras de frear a propagação do novo coronavírus. A pandemia da Covid-19, que vem se arrastando desde o começo do ano, vem tendo duras consequências econômicas e sociais.
Hoje, algumas partes do mundo passam por uma segunda onda de casos da doença, como a Europa, cujos países estão voltando ao confinamento. Há também países como a Argentina, onde o rígido isolamento social atrasou, mas não impediu a propagação do coronavírus pelo país, numa primeira onda mais tardia, a partir de agosto. Já o Brasil, estacionou em um platô estatístico, e tornou-se comum na vida pública do país registrar centenas (às vezes mais de mil) mortes diárias, desde abril.

A humanidade espera pelas saídas possíveis da crise. Uma delas seria que as medidas de isolamento fossem respeitadas, dessem certo e os casos de Covid-19 diminuíssem drasticamente. Mas isso está longe de ser a realidade. A maior esperança está na produção de vacinas. Esse caminho, embora promissor, também pode ser problemático a longo prazo; pela necessidade da criação de uma vacina em tempo recorde, o desafio logístico de produzir centenas de milhões de unidades e distribuí-las pelo mundo, os movimentos anti-vacina e pessoas que não querem se vacinar contra o novo coronavírus, assim como a previsão de que doses serão necessárias de seis em seis meses.
Enquanto isso, há países mais e menos afetados pela doença, e a mobilidade de pessoas em viagens consideradas não essenciais continua reduzida, sem previsão de retorno à normalidade. Será que as barreiras sanitárias vão permanecer, a longo prazo, como mais um obstáculo para a mobilidade dos migrantes?
Projeto (I)mobilidade nas Américas. Covid-19
O interessante projeto (I)mobilidade nas Américas é uma plataforma que busca mapear as respostas estatais para a crise do novo coronavírus, assim como as consequências dessas medidas para as populações migrantes no continente. No site da iniciativa, que conta com cientistas de mais de 17 países, é possível encontrar detalhes sobre as providências tomadas por cada um dos países da América desde o início da pandemia.

(I)mobilidade nas Américas relembra, em sua apresentação, que vivemos em um continente em movimento, onde encontram-se: o país com mais emigrantes no mundo (México), o maior destino migratório (Estados Unidos) e o com mais deslocados internos (Colômbia). A plataforma também ressalta a importância do recente aumento dos fluxos de migrantes sul-sul para a América Latina. A limitação dos fluxos de pessoas no continente vai contra as tendências históricas e contemporâneas da região.
São identificadas por eles situações em comum entre os países do continente. Em geral, fronteiras foram fechadas e mesmo militarizadas nesse processo, sem levar povos transfronteiriços em consideração; a deportação de migrantes tem aumentado consideravelmente, e mesmo a possibilidade de pedir refúgio foi ou está temporariamente suspensa em algumas situações, entre outras tendências que podem ser conferidas no site do projeto.
No momento atual, são muitas as incertezas com relação ao futuro. Entretanto, devemos ficar atentos às mudanças na mobilidade que são feitas atualmente pelos governos. Por um lado, de maneira a exigir que os direitos humanos dos migrantes e de quem pleiteie a mobilidade sejam respeitados. Por outro, para que as mesmas barreiras sejam temporárias.
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João Paulo Rossini Coelho
Pesquisador do Diaspotics/UFRJ