O bairro de Pinheiros, localizado na zona Oeste da capital paulista, possui um dos locais mais representativos para a comunidade chilena no país. O restaurante El Guatón oferece, desde 1997, as principais receitas da saborosa culinária do país andino em um ambiente mais do que especial.
O estabelecimento fica em uma antiga casa de bairro, reformada para dar lugar ao restaurante. A varanda continua intacta; e virou o salão externo, que atende os clientes que preferem comer enquanto apreciam o movimento da rua calma e arborizada. A garagem se transformou no bar, onde são preparados os sucos e drinks e de onde saem os vinhos chilenos pedidos pelos frequentadores do local.
O El Guatón não esconde suas origens, e as referências ao Chile estão em todos os lados. De frente para o balcão do bar, está um mural de fotos da família. Imagens do senhor Carlos com a esposa e os três filhos, no Chile e também no Brasil, durante a criação do restaurante. A memória às vezes se encontra nos detalhes, nos pequenos objetos escondidos no canto de um local.

Logo na entrada do restaurante, na prateleira do bar e ao lado das garrafas de vinho, está um pequeno prato branco, onde um garoto sorridente de camisa branca e short preto chuta uma bola. De um lado, o escudo do Colo-Colo, o clube mais popular do Chile. Do outro, o do Corinthians, o clube mais popular de São Paulo. Abaixo, a inscrição “Chile”. O objeto remete ao ano de chegada do chileno no Brasil, 1977.
Após sair de Santiago por via terrestre e passar por Córdoba, Buenos Aires, Colonia del Sacramento, Montevidéu e Porto Alegre, esse jovem chileno chegou em São Paulo. Era outubro, e nas ruas paulistanas uma multidão alvinegra celebrava a conquista do Corinthians, que encerrou um jejum de 22 anos sem títulos. As bandeiras e camisas alvinegras do Timão remeteram ao alvinegro chileno Colo-Colo, equipe de coração de Carlos; e a partir daí ele adotou o Corinthians como sua equipe no Brasil. Começava assim a se integrar à sociedade local.
Diferentemente de muitos chilenos, que na época se estabeleceram na região do ABCD, Carlos, que foi hippie durante a juventude no Chile, acabou se fixando em São Paulo. Trabalhou como garçom, em hotel, como motorista de táxi e ainda teve um kombi de entregas. Foi assim que conseguiu juntar dinheiro para fundar, em 1997, o segundo restaurante chileno da capital paulista – o primeiro foi o O’Higgins, fundado ainda antes do golpe militar de 1973, localizado na Avenida 9 de Julho e que acabou fechando entre o final dos anos 70 e o início dos 80.
O empreendimento foi também uma forma de manter um vínculo forte com a terra natal. O filho mais novo, enólogo de formação, trabalha no restaurante. E as referências ao Chile são inúmeras. Começando pelo mural na varanda, que, além de apresentar o menu, mostra frases representativas da chilenidad como “si es chileno es gueno” e “más chileno que los porotos“. No salão interno, quadros e pratos com imagens de locais como Torres del Paine e o Atacama, instrumentos de música andinos, referências a Neruda e Gabriela Mistral, flâmulas chilenas, camisetas do Colo-Colo, Universidad de Chile e Universidad Católica, uma página do tradicional jornal Chile en Evidencia, um pôster da Copa do Mundo de 1962 e, como não poderia deixar de ser, uma grande bandeira chilena.

O cardápio oferece diversas iguarias da culinária do Chile. No El Guatón, é possível provar ceviche, pastel de choclo (torta salgada de milho recheada com carne moída e frango), humitas (receita de milho, cebola, leite e manjericão), cazuela (ensopado de carne de boi ou frango, com muitas hortaliças e engrossada com batata, arroz, massa ou farinha de milho), porotos granados (ensopado de feijão com milho, abóbora, cebola e manjericão), peixes como o salmão e o congrio e muito mais. Tem também as empanadas de diversos sabores, assadas no forno ou fritas, deliciosas e com bastante recheio. Para a sobremesa, vale pedir o clássico mote con huesillos (bebida de suco de pêssego com grãos de trigo) ou o panqueque con manjar (panquecas de doce de leite). E também é possível provar, além dos vinhos chilenos, drinks locais como o pisco sour, a piscola (pisco e refrigerante) e o terremoto (vinho branco doce, fernet-branca, licor de romã e sorvete de abacaxi). A experiência fica ainda melhor enquanto escutamos, das caixas de som do restaurante, a potente voz de Violeta Parra: “gracias a la vida que me ha dado tanto…”
Serviço:
Restaurante El Guatón
Rua Artur de Azevedo, 906, Pinheiros, São Paulo, SP.
Tel: (11) 3085-9466 / 3807-9647
Horário: todos os dias, das 11hs às 23:55hs
