Foi em uma sala com livros, sabões caseiros e um espelho para aulas de dança no segundo andar de uma biblioteca comunitária na entrada do Morro do Banco, zona oeste carioca, que encontramos William Clavijo, presidente e idealizador da ONG que apoia venezuelanos nos processos de integração no país. O diferencial se manifesta nas próprias pessoas que regem a associação: é um apoio de migrantes a migrantes, daqueles que conhecem pela experiência pessoal os desafios do deslocamento.
Clavijo chegou ao Brasil em 2014 para estudar, mas também para garantir sua integridade. Militante oposicionista ao regime Maduro, o hoje doutor em Políticas Públicas pelo Instituto de Economia da UFRJ disse estar diferente desde que seu perfil foi traçado aqui, em 2019. Não que ele tenha mudado suas convicções quanto ao governo de lá, mas a combatividade com amigos brasileiros e na universidade sobre a política do outro lado da fronteira transformou-se em tolerância e ação para compatriotas no país que eles se sentem gratos em estar.
Clavijo teve que interromper a entrevista duas vezes. Uma vez para receber duas mulheres e duas crianças venezuelanas que subiam os andares e os cumprimentou com familiaridade. Enquanto a entrevista acontecia, era a parceira de Clavijo, Karina Chuquimia, que tocava as solicitações de renovação de residência junto à Polícia Federal. Chuquimia é sócia-fundadora da organização Immigration Consulting, voltada ao fator empresarial das migrações, enfoque que ela disse ser desconhecido por boa parte dos pesquisadores do tema. Um dos projetos da parceria é o recém-lançado Naturalizadinho, que pretende acelerar as naturalizações de crianças migrantes no Brasil mediante o apoio em rede das organizações de migração. Já a segunda interrupção aconteceu para atender um telefone que Clavijo revelou ser um convite recebido diretamente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para falar sobre políticas públicas junto aos venezuelanos.
Apesar da visibilidade conquistada com o engajamento social, que entre diversas atividades se soma a visita de representantes do Consulado dos Estados Unidos à associação, a atuação da Venezuela Global ainda dá seus primeiros passos e deve crescer. Além das consultorias gratuitas referentes à documentação que já auxiliou cerca de 70 pessoas (em especial a renovação de residência, auxílio nos pedidos de CPF e de carteira de trabalho) e ações de sensibilização de políticas públicas junto aos poderes, eles recebem apoio de outras instituições mais encorpadas atuantes no Rio de Janeiro, como a Mawon, que repassa cestas básicas para a Venezuela Global e dali são distribuídas à comunidade venezuelana que passou a se localizar especialmente naquela região da zona oeste da cidade, segundo ele.
Com o aumento de 900% de venezuelanos residindo no Brasil nos últimos dois anos, as doações continuam sendo necessárias e Clavijo solicita contribuições de todo tipo: cestas básicas, materiais domésticos e escolar ou quantias financeiras que podem ser enviadas na conta:
Banco PagSeguro Internet S.A.
Agência: 0001
Conta de pagamento: 29665263-9.
Instituto Casa Venezuela Rio de Janeiro / CNPJ: 41.236.271/0001-28.
Recentemente, apresentamos uma lista de instituições de auxílio a migrantes que precisam de ajuda aqui.
Desde o início, a associação tem buscado alianças com instituições, como a Aldeias Infantis, que acabou atraindo os venezuelanos para a região pela ação solidária, e a ONG Ação Floresta da Barra, que acolhe a Venezuela Global em sua sede. Pertence a ela os sabões caseiros vendidos a R$2,50, os livros e a sala em que Clavijo e Chuquimia oferecem atendimento em uma aliança cooperativa fundamental. O objetivo da Venezuela Global insiste na integração econômica e social como caminho para a independência dos migrantes. Em seu site é possível que venezuelanos cadastrem seus currículos profissionais e empresas brasileiras entrem em contato para viabilizar o contrato de trabalho. A idealização da associação é também uma forma de construção do “tecido social” com a sociedade brasileira com vistas à integração da própria comunidade venezuelana. Clavijo acredita que a transformação do seu país será ao longo prazo e passa por esse encontro dos próprios compatriotas, mesmo que em outra cultura.
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